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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) – Novas formas de organização do Trabalho e a Segurança do Trabalhador



O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nos locais de trabalho e estudo está causando mudanças que afetam a "concepção tradicional do trabalho" (trabalho realizado nas instalações da empresa), mudanças que afetam a comunicação (agora mediada) ou a própria maneira de fazer o trabalho (offshored (deslocado) graças ao uso das TIC). Neste sentido, o presente trabalho investiga o impacto das TIC no local de trabalho em geral e da população, em particular, também analisando algumas das formas de organização do trabalho associados com o uso das TICs.

Por outro lado, de um ponto de vista mais prático, são abordadas questões relacionadas com a legislação existente e aplicáveis ​​a novas formas de organização do trabalho baseadas no uso das TIC, identificam-se fatores de risco psicossociais que podem estar presentes em algumas dessas novas formas de organização do trabalho (bem como a possível metodologia aplicável para avaliá-los) e algumas medidas preventivas de natureza geral são propostas.

Introdução

Atualmente, a tecnologia está mudando rapidamente ocupando um lugar cada vez mais importante no local de trabalho, não só a tecnologia entendida como o desenvolvimento e o uso de novas máquinas de ponta que reduz os custos, reduz os tempos de trabalho e / ou aumenta a rapidez na produção e qualidade dos processos, mas como Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que permitem a organização e a realização de trabalhos em qualquer lugar e a qualquer momento.

Fazendo uma breve revisão histórica, deve-se lembrar de que a magnitude das mudanças que estamos experimentando atualmente, com a chamada "Quarta Revolução Industrial", já foi experimentada em outras ocasiões, por exemplo: na Primeira Revolução Industrial, começou durante a segunda metade do século XVIII (caracterizado pela extração e uso de carvão, o uso de a máquina a vapor, etc.); na Segunda Revolução Industrial (caracterizada pelo uso de novas fontes de energia, como gás, petróleo ou eletricidade, novos sistemas de transporte como o avião e o automóvel, mudanças na comunicação usando o telefone e o rádio, etc.); ou na terceira revolução Industrial (caracterizado pelo desenvolvimento de eletrônicos, tecnologia de informação, a difusão do Smartphone, etc.). Todos causaram mudanças na gestão das empresas e na organização do trabalho, mudanças que podem ter um impacto positivo ou negativo na saúde e segurança dos trabalhadores.

A chamada "Quarta Revolução Industrial", "Indústria 4.0" ou "Indústria Digital" caracteriza-se pelo desenvolvimento de novas tecnologias associadas ao processo de produção (robótica, fabricação computadorizada com todos os processos interligados pela "Internet das Coisas", etc.), bem como a digitalização, o uso intensivo da internet, das tecnologias e das TICs. Tudo isso está causando mudanças importantes na organização do trabalho, que traduzindo  em uma linguagem preventiva, significa que essas mudanças são um potencial gerador de riscos ocupacionais, por isso é necessário adotar, mais uma vez, uma posição preventiva e vigilante que serve para antecipar os possíveis novos riscos associados ao uso das TIC e essas novas formas emergentes de trabalho (por exemplo, trabalho móvel usando TIC, home office, etc.), a fim de assegurar um equilíbrio entre segurança e saúde de trabalhadores e a implementação adequada das novas mudanças organizacionais exigindo uma maior flexibilidade trabalhista, o uso intensivo da internet, a virtualização das relações trabalhistas, etc.

Nesse sentido, o Instituto Nacional de Seguridade Social da Espanha (INSSBT) iniciou em 2015 um projeto de pesquisa chamado "Estudo Psicossocial sobre as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação no Local de Trabalho (TIC)" com o objetivo de estudar como o uso das TICs poderia afetar a segurança, a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Para isso, várias linhas de trabalho foram desenvolvidas:


· Estudo da incidência do uso das TIC para organizar e realizar o trabalho;

· Análise de algumas formas de organização do trabalho, baseadas no uso de TIC que são posteriores ao teletrabalho permanente (por exemplo, teletrabalho suplementar e alternativo, trabalho móvel, nômade e home office), indicando os fatores psicossociais que podem afetar positivamente as condições do trabalho e da saúde do trabalhador, bem como dos fatores psicossociais de risco resultantes de uma organização inadequada e design do trabalho que pode ter um impacto negativo.

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Concepção e promoção de medidas que promovam fatores psicossociais positivos e, por outro, projetem medidas preventivas que impeçam possíveis danos aos trabalhadores que possam ser causados pelos fatores de risco psicossociais identificados.



Os aspectos positivos relacionados ao uso das TIC (figura 1) originarão condições de trabalho que trarão benefícios para os empregadores (redução de custos em espaços físicos, maior cobertura de mercado, uma vez que pode ter trabalhadores remotamente em vários locais, etc.) e trabalhadores (maior autonomia para realizar seu trabalho, flexibilidade trabalhista, economia de tempo investido na mudança para o local de trabalho, maior reconciliação entre vida familiar e trabalho, etc.), permitindo um aumento na satisfação no trabalho e de produtividade.





Os aspectos prejudiciais (figura 2) são consequência da implementação inadequada e / ou falta de gestão do uso das TICs, no local de trabalho, possibilitando a origem de fatores de risco psicossociais que afetam o bem-estar, a integridade física  e a saúde do trabalhador.

Novas formas de organização e execução do trabalho, relacionadas ao uso das TICs – Entendimento Europeu sobre o tema:

A documentação revisada sobre novas formas de organização do trabalho caracteriza-se pela diversidade de um terminologia e critério em termos de estabelecimento de diferentes tipos de teletrabalhadores ou novas formas de organização do trabalho.

Quanto ao teletrabalho, deve-se notar que não há uma definição única (universalmente utilizada) e uma classificação que pode ser considerada "oficial" a nível europeu, embora muitas vezes usado como definido no Acordo Europeu sobre Teletrabalho, que a define como "Uma forma de organização e / ou desempenho do trabalho, em que um trabalho que poderia ser realizado igualmente nas instalações da empresa é realizada fora dessas instalações regularmente ".

Existem vários documentos, em que podem ser encontradas diferentes classificações, quer em novas formas de organização, que é definida no Acordo-Quadro Europeu sobre Teletrabalho, que a define como, "uma forma de organização e / ou realização de trabalho, aonde um trabalho que poderia ser realizado igualmente nas instalações da empresa é realizado fora dessas instalações, regularmente", mas podemos encontrar classificações diferentes, para estas novas formas de organização.

Observação – Se para a legislação Europeia é confuso... Imagine a nossa!

Trabalho móvel

O teletrabalho móvel ou o trabalho móvel baseado nas TICs é uma forma de organização do trabalho caracterizada pela troca de informações em cenários virtuais (uma vez que os trabalhadores podem realizar seu trabalho fora das instalações do empregador usando as TIC’s e espaços virtuais para a colaboração, comunicação e a realização do trabalho), disponibilidade e conectividade constante em qualquer lugar e a qualquer momento, facilitada pelo uso de dispositivos de trabalho e mobilidade de tecnologias móveis em todos os seus significados. Essa mobilidade mencionada pode ser entendida como:

  • ·         Mobilidade dos conteúdos
    •  O Conteúdo do trabalho pode ser recebido e enviado de um quase imediatamente graças ao uso da internet.

  • ·         Mobilidade dos dispositivos portáteis utilizados (laptop, tablet, etc.).

  • ·     Mobilidade dos relacionamentos (os trabalhadores não se relacionam apenas com um único centro de trabalho com seus colegas localizados no mesmo centro, mas interagem com os Trabalhadores em diferentes locais de maneira local, nacional e internacional ou mesmo através de espaços virtuais) .

  • ·         Mobilidade virtual. Refere-se à conclusão da tarefa em espaços virtuais de trabalho.

  • ·   Mobilidade física e não necessidade de determinada localização para realizar o trabalho (executando-o em hotéis, cafeterias, empresa do cliente, sua própria casa, na viagem de um local para outro usando o avião, o trem, etc.).

Trabalho Nômade

O trabalho nômade pode ser entendido como uma forma extrema de trabalho externo a empresa que, compartilha as mesmas características que o teletrabalho móvel e possui três especificações:
a) os trabalhadores viajam intensamente durante a maior parte do tempo,
b) não estão fortemente ligados a qualquer escritório ou local de trabalho que transcenda a necessidade de ir a um centro de trabalho físico,
c) têm a necessidade de transportar, gerenciar e reconfigurar seus próprios recursos (computador, fax, impressora, conexão à internet, tomada elétrica, etc.), quando eles realizam seu trabalho em diferentes locais.

Metodologia aplicável para avaliar os fatores psicossociais presentes nas novas formas de organização do trabalho baseadas no uso das TIC

Para avaliar os fatores psicossociais presentes nessas novas formas de organização do trabalho com base no uso das TIC, o procedimento que pode ser usado avaliação padronizada que é considerada a forma mais adequada e que fornece maior confiança no resultado.  Existem ferramentas construídas para isso com procedimentos de avaliação que incluam fatores ou itens característicos dessas formas de organização do trabalho baseadas no uso das TIC, como as relacionadas ao assincronismo temporal, à comunicação mediada pelo uso das TIC, a mobilidade física dos trabalhadores, o sentimento de isolamento do trabalhador, a possibilidade de trabalhar em diferentes locais, a realização de trabalho em um ambiente de trabalho não convencional (cafeterias, hotéis, trens, etc), a conectividade constante do trabalhador, a dependência tecnológica para a realização do trabalho, etc.

Se não conseguir estes tipos de itens na ferramenta de avaliação padronizada escolhida, seria aconselhável aplicar técnicas quantitativas (como seleção ou teste) ou qualitativas (entrevista, etc.) para coletar informações específicas a este respeito. Quanto à aplicação de metodologia quantitativa adicional, existem várias listas de verificação que podem nos guiar sobre as informações a serem reunidas sobre usuários de TIC e trabalhadores remotos. 

Fonte INSSBT - Espanha
Comentários - Marcel Sérgio Albino